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Conferência “50 Anos da Literatura Moçambicana: Percursos e Práticas Criativas” terá lugar nos dias 9 e 10 de outubro na Fundação Calouste Gulbenkian


Conferência 50 Anos da Literatura Moçambicana: Percursos e Práticas Criativas

Data: 9 e 10 Outubro 2025, com entrada livre. Horário a confirmar
Local: Sala 1 da zona de congressos da Fundação Calouste Gulbenkian (Av. de Berna, 45A, 1067-001 Lisboa)
Organização: CEsA – Centro de Estudos sobre África e Desenvolvimento (CEsA/CSG/ISEG-ULisboa) e UEM – Universidade Eduardo Mondlane
Apoio: Fundação Calouste Gulbenkian e CEsA/CSG/ISEG-ULisboa
Parcerias: Universidade de Bayreuth, Sorbonne Nouvelle e Universidade Estadual de Campinas

 

No ano em que se comemoram 50 anos da criação curricular das Literaturas Africanas na Universidade Portuguesa (FLUL-ULisboa) esta Conferência, programada para dois dias, promovida pelo CEsA – Centro de Estudos sobre África e Desenvolvimento (CSG/ISEG-ULisboa), em parceria e colaboração organizativa com a Universidade Eduardo Mondlane (UEM) de Moçambique, será constituída por quatro mesas-redondas temáticas. Vai integrar simultaneamente escritores/as, artistas, docentes universitários de Portugal e de Moçambique, a fim de apresentar e discutir os desenvolvimentos nas prática criativa e investigativa das literaturas africanas, centralizando-se na discussão e desenvolvimento em torno da Literatura Moçambicana ao longo de cinquenta anos – enquanto exemplo singular no quadro das literaturas africanas de língua portuguesa – e suas propostas para o futuro. Integraremos também a colaboração de especialistas de Literaturas Africanas, em especial da Literatura Moçambicana, em parceria com Universidades europeias (Bayreuth e Sorbonne Nouvelle) e brasileiras (Unicamp – Universidade Estadual de Campinas).

A Conferência de dois dias 50 Anos da Literatura Moçambicana: Percursos e Práticas Criativas ao incluir escritores/as, editores/as, cineastas e artistas, procurará evidenciar a dimensão criativa, enquanto propulsionadora da dimensão investigativa. Os diferentes intervenientes irão trazer testemunhos e posicionamentos sobre um passado recente, que perfaz meio século, nos domínios da criação, ensino, edição, tradução, e um futuro que se promete com novas propostas a partir das experiências dos mais jovens.

A entrada é livre e não haverá chamadas de comunicação universitária e académica.

 

Comissão Organizadora:
Ana Mafalda Leite (FLUL/ULisboa e CEsA/CSG/ISEG/ULisboa)
Lucílio Manjate (UEM)

 

Comissão Científica:
Ana Mafalda Leite (FLUL/ULisboa e CEsA/CSG/ISEG/ULisboa)
Egídia Souto (Sorbonne Nouvelle)
Elena Brugioni (UNICAMP)
Elídio Nhamona (UEM)
Jessica Falconi (FLUL/ULisboa e CEsA/CSG/ISEG/ULisboa)
Joana Pereira Leite (CEsA/CSG/ISEG/ULisboa)
José Camilo Manusse (UEM)
Lucílio Manjate (UEM)
Ute Fendler (University Bayreuth)

Autor: Comunicação CEsA (comunicacao@cesa.iseg.ulisboa.pt)
Imagens: Reprodução

Ana Mafalda Leite e Egídia Souto organizam encontro na Université Sorbonne Nouvelle para refletir sobre a literatura, a economia e as ecologias de São Tomé e Príncipe


Um encontro para reunir investigadores/as são-tomenses, portugueses/as e franceses/as nas áreas da Literatura, Economia e Ecologia. Esta foi a tónica da Journée Internationale d’Etudes São Tomé – Les graines de l’espoir – “Entre l’Hertitage colonial et Écologie vivante”, que decorreu a 6 de novembro na Université Sorbonne Nouvelle, em Paris, coorganizado pelas investigadoras Ana Mafalda Leite (CEsA) e Egídia Souto (CREPAL – Centre de recherches sur les pays lusophones, Sorbonne Nouvelle).

O programa do encontro destacou-se pela diversidade e dinamismo. Na sessão 1, intitulada “O património natural de São Tomé e Príncipe”, decorreu a exibição do documentário Le Chant des Roças, sobre São Tomé e Príncipe, seguida de uma conversa com os realizadores Romain de l’Ecotais e Damien Miloch. Na sessão 2 – “Ecopoética: reencantando o mundo”, a escritora são-tomense Olinda Beja apresentou A canção do ossobô, seguida de Ana Mafalda Leite com o seminário Representações da Natureza na poesia santomense. O encontrou seguiu por toda a tarde, com debates sobre o património natural e cultural do arquipélago, os desafios ecológicos contemporâneos, o impacto da herança colonial e a imagem internacional do país como produtor de cacau.

No dia seguinte, a conversa teve continuidade numa sessão poética organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian na Bibliothèque Gulbenkian, intitulada Os Murmúrios das Árvores: Poesia e Património de São Tomé e Príncipe, com a participação de Olinda Beja, Egídia Souto e Ana Mafalda Leite.

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Université Sorbonne Nouvelle

Bibliothèque Gulbenkian

Autor: Comunicação CEsA (comunicacao@cesa.iseg.ulisboa.pt)
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CEsA participa na Reunião de Diretores da EADI e no 2º Congresso da Associação Polaca de Estudos Internacionais, em Cracóvia


Entre os dias 6 e 9 de novembro de 2024, a Direção do CEsA, representada pelos Professores Eduardo Moraes Sarmento e Alexandre Abreu, participou na EADI Directors’ Meeting e no 2º Congresso da Polish International Studies Association, que tiveram lugar na Jagiellonian University, em Cracóvia, Polónia.
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Estes encontros representaram uma oportunidade única para fortalecer redes de colaboração com investigadores e diretores de centros de estudos e institutos de desenvolvimento da Europa e de outras partes do mundo, bem como para apresentar as atividades do CEsA, reforçando o nosso compromisso com a excelência na investigação.
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Autor: Comunicação CEsA (comunicacao@cesa.iseg.ulisboa.pt)
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Direção do CEsA recebe comitiva de professores da Universidade Estadual de Goiás, Brasil


No passado dia 5 de novembro de 2024, a Direção do CEsA teve o prazer de receber, no ISEG – Lisbon School of Economics & Management, uma comitiva de professores da Universidade Estadual de Goiás, Brasil, para conhecer o TECCER – Programa de Pós-Graduação em Territórios e Expressões Culturais no Cerrado, e explorar potenciais oportunidades de cooperação no domínio da investigação académica em áreas convergentes com as linhas de investigação do CEsA.

A reunião contou com a presença dos professores do ISEG e membros da Direção do CEsA, Eduardo Moraes Sarmento e Alexandre Abreu, bem como dos professores da UEG, no âmbito do programa TECCER, Divina Aparecida Leonel Lunas, Jean Carlos Vieira Santos, Mary Anne Vieira Silva e Milena D’Ayala Valva, acompanhados pela estudante de mestrado Maria de Lourdes Alves dos Santos.

 

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Linhas de investigação do CEsA

TECCER – Programa de Pós-Graduação em Territórios e Expressões Culturais no Cerrado

 

Autor: Comunicação CEsA (comunicacao@cesa.iseg.ulisboa.pt)
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Brief Paper 1/2024: Reposicionamento do activismo político e social em Moçambique: Uma análise conjecturando a eclosão de conflitos sociopolíticos


Resumo:

Este Brief Paper fala sobre o reposicionamento do activismo político e social em Moçambique, num contexto massivamente marcado pela participação da cidadania activa nos pleitos eleitorais de 2023, contrariando a tendência dos pleitos passados, na sua maioria marcados por fraco activismo político e social. Neste contexto, este Brief Paper defende o argumento segundo o qual, o reposicionamento está associado ao facto de que a população moçambicana ganhou nova consciência política e social, caracterizadas pela busca da verdade e da autenticidade dos seus governantes. Este reposicionamento inclui igualmente a disposição da população de enfrentar o poder do Estado e acarreta dois domínios de análise com consequências nefastas para o governo moçambicano, respetivamente: domínio doméstico e domínio externo. Isto ocorre porque a população tende a perder medo em relação à repressão levada à cabo através da polícia e dos militares. Além disso, neste reposicionamento se despertou a existência de um conflito latente e vigente entre o actual governo de Moçambique e a geração 1990-2000. Do ponto de vista metodológico, dois instrumentos apoiaram esta análise: técnica bibliográfica e técnica documental. Em termos teóricos, este Brief Paper foi lido à luz da teoria das Necessidades Básicas de Maslow, em conjugação com a teoria de Frustração e Agressão de estudos de conflitos. Por fim, as conjecturas feitas neste Brief Paper indicam que o actual governo da Frelimo perdeu legitimidade aos olhos do povo, sobretudo para a geração 1990-2000. Entretanto, há ainda conjecturas cuja assunção é de que a Frelimo goza de uma legitimidade assente em duas perspectivas de análise, respectivamente: uma perspectiva tradicional e outra perspectiva Institucional. As duas perspectivas se complementam e justificam a permanência da Frelimo no poder.

Citação:

Chisseve, Delton (2024). “Reposicionamento do activismo político e social em Moçambique : uma análise conjecturando a eclosão de conflitos sociopolíticos”. CEsA/CGS – Brief Papers nº 1/2024

Investigadoras do CEsA Ana Mafalda Leite e Jessica Falconi integram congresso internacional sobre as Independências africanas


 

As investigadoras do CEsA Ana Mafalda Leite e Jessica Falconi integram, respetivamente, a Comissão Científica e a Comissão Organizadora do Congresso Internacional Independências Africanas: Processos, imaginários, conexões, que decorrerá entre os dias 10 e 12 de dezembro de 2025 na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Organizado pelo Centro de História e pelo Centro de Literaturas Lusófonas e Europeias da Universidade de Lisboa e financiado pela FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, o evento pretende ser um momento de reflexão sobre o saber produzido ao longo de meio século das independências africanas e, ao mesmo tempo, de lançamento de novas perspetivas e abordagens sempre a partir de um diálogo intenso entre todas as áreas disciplinares.

Participarão como oradores principais o ensaísta, especialista em história política de Angola e do Congo e professor catedrático de história africana na Universidade de Howard, Jean-Michel Mabeko-Tali, a escritora, editora e professora catedrática de Estudos Culturais Africanos na University of Wisconsin-Madison, Marissa J. Moorman, e a membro da Academia das Ciências de Lisboa e do CODESRIA e professora catedrática aposentada da Universidade Eduardo Mondlane, Teresa Cruz e Silva.

O congresso abriu uma chamada para o envio de comunicações, com prazo até 31 de março de 2025. As propostas devem enquadra-se num dos cinco temas a seguir:

  1. Balanços, novas perspetivas e desafios futuros para a historiografia sobre as independências africanas;
  2. Projectos e dinâmicas de acção política na luta anti-colonial;
  3. Lutas armadas e resistências: escolhas, tensões e conflitos;
  4. Imaginários das independências africanas: narrativas orais, escritas e visuais;
  5. As independências africanas e o mundo: solidariedades internacionais.

 

Autor: Comunicação CEsA (comunicacao@cesa.iseg.ulisboa.pt)
Imagens: Reprodução

Mundo Crítico n.º 10: Desenvolvimento e paz em tempos de conflitos


Resumo:

Perante a crescente polarização e proliferação de conflitos à escala mundial, urge pensar no mundo e procurar soluções conjuntas e caminhos para a paz. A Cooperação para o Desenvolvimento pode ser uma via de diálogo e de acção, assumindo um papel na procura de respostas positivas e construtivas para a promoção da paz e do desenvolvimento sustentável à escala global. Porém, como sublinham Sara De Simone e Pedro Rosa Mendes na “conversa imperfeita” de abertura deste número, não há fórmulas one size fits all e é crucial envolver todos os envolvidos, actores formais e informais, no diálogo para a paz e reconciliação e procurar sobretudo soluções a partir de processos endógenos.

Os conflitos actuais, sobretudo os mais mediatizados e com grande impacto global como a guerra na Ucrânia e no Médio Oriente, têm consequências devastadoras para as suas populações e para os equilíbrios entre regiões. Para além destes conflitos, os focos de tensão e conflitos prolongados noutras partes do mundo, nomeadamente em países africanos, têm também um efeito desestabilizador à escala regional e mundial.

Nesta décima edição da Mundo Crítico – Revista de Desenvolvimento e Cooperação, procuramos questionar de que forma os processos de desenvolvimento são afectados pela guerra e pelos conflitos latentes. Questionamos se o “subdesenvolvimento” é, de facto uma ameaça ou se se enraizou uma narrativa de divisão do mundo entre zonas propensas à violência, na periferia do mundo, e zonas de paz, no centro de decisão. E, como tema transversal, surgem as migrações, com a crescente instrumentalização do fenómeno e cedências ao discurso de extrema-direita, sobretudo na União Europeia.

Este número integra ainda uma reflexão sobre o papel das mulheres no diálogo e na acção para a construção de uma paz duradoura, sobre o futuro dos Estados em situação de fragilidade, muitos deles vítimas das alterações climáticas, da pandemia e de “conflitos por procuração” entre diferentes potências, ao estilo da Guerra Fria, e sobre o papel das cidades em zonas de conflito rural, como no caso de Pemba, em Moçambique.

O ensaio fotográfico desta edição percorre os muros (ainda) erguidos em diferentes continentes, do Brasil ao Médio Oriente, e que acentuam a divisão do mundo e de quem tem direito a mover-se. Por fim, num registo mais jornalístico, fala-se dos conflitos relacionados com água e sobre África, negligenciada pelos grandes grupos de notícias.

Citação:

ACEP & CEsA (2024). “Desenvolvimento e paz em tempos de conflitos”. ISEG/CEsA – Centro de Estudos sobre África e Desenvolvimento. Revista Mundo Crítico nº 10 (Jun 2024). ISSN 2184-1926.

Mundo Crítico n.º 9: Representações do mundo no mundo das representações


Resumo:

A nona edição da Mundo Crítico procura analisar criticamente as questões relacionadas com as representações do mundo e as relações que existem entre a produção e construção de narrativas visuais e escritas do(s) outro(s), sobretudo, mas não só, a partir do campo das organizações de “apoio ao desenvolvimento”, como também do jornalismo.

Esta edição inicia, por isso, com uma “conversa imperfeita” entre um jornalista português António Rodrigues e o dirigente associativo e activista guineense Miguel de Barros, sobre a necessidade de trazer para o centro outra ideia de periferias e outras narrativas e sobre a espectacularização da cooperação e do desenvolvimento.

A editoria “saber e circunstâncias” inaugura com uma reflexão do jornalista espanhol Alfonso Armada sobre a nossa sociedade, a partir de Guy Debord, e o alerta deixado pelo autor sobre a conversão da política e da história num espectáculo de consumo. A jornalista moçambicana Zenaida Machado fala-nos da situação em Cabo Delgado, em Moçambique, e de como, mais uma vez, a situação dos moçambicanos continua distante da “lupa da cobertura jornalística internacional”, em detrimento dos investimentos milionários em risco na zona. Da Guiné-Bissau, o investigador Sumaila Jaló analisa a migração irregular do país, através de relatos de vida transformados em músicas, procurando desconstruir a imagem que nos chega sobre essa realidade. A editoria integra ainda uma reflexão sobre o papel da educação para o desenvolvimento e cidadania global, a partir do projecto Sinergias ED, escrito por quatro investigadoras envolvidas no projecto. Por fim, a presidente da ACEP, Fátima Proença, desafia-nos com 10 propostas para a mudança na comunicação das ONG com a sociedade, de forma a criar novas narrativas e novas informações eticamente balizadas.

No “modos de ver”, a fotógrafa moçambicana Yassmin Forte, vencedora em 2023 do Prémio de Fotografia Africana Contemporânea, brinda-nos com um ensaio fotográfico a partir da sua história familiar, iniciada na pista de dança em Quelimane, Moçambique. A investigadora Livia Apa discorre nas narrativas sobre a importância das séries senegalesas para retratar o país, enquanto o dirigente associativo Paulo Mendes nos interpela sobre o papel da diáspora para mudar a narrativa sobre o racismo e a dicotomia colonizador / colonizado.

Nas “inovações”, apresentamos uma iniciativa do Fundo Norueguês de Assistência a Estudantes e Investigadores capaz de desconstruir as campanhas de angariação de fundos das organizações internacionais. Já nos “ecos gráficos”, a ilustradora Amanda Baeza propõe uma “peça em dois actos”, entre o Chile e Portugal.

Por fim, no “escaparate”, desafiámos a produtora de audiovisual santomense Katya Aragão e a especialista em comunicação da Guiné-Bissau Luana Pereira a folhear os livros dedicados à pintura publicitária em cada um dos países, da autoria de uma designer gráfica e de um investigador polacos, e escrever a partir e sobre eles. A edição termina com uma recensão de Leonor Teixeira, de um guia recente da BOND sobre a forma como as imagens das ONG devem ser utilizadas, a pensar sempre nos seus protagonistas.

A capa é da autoria do artista plástico guineense Nú Barreto, que elaborou propositadamente a imagem para esta edição. Boas leituras!

Citação:

ACEP & CEsA (2023). “Representações do mundo no mundo das representações”. ISEG/CEsA – Centro de Estudos sobre África e Desenvolvimento. Revista Mundo Crítico nº 9 (Dez 2023). ISSN 2184-1926.

Mundo Crítico n.º 8: A cultura no sonho de justiça e de liberdade


Resumo:

Num mundo turbulento o recurso à sapiência dos nossos referentes torna-se ainda mais premente. Quando nos lembramos dos ensinamentos de Amílcar Cabral damo-nos conta de como o global é tão local. Ouvimos falar da personalidade em termos de postura, comportamento, liderança, carisma. Tudo isso transparece nos vídeos, nas fotos ou áudios que registaram o homem, nas análises que muitos nos brindaram, ou ainda na marca de um inquérito da BBC, que o reconheceu entre os mais influentes da história contemporânea mundial. Mas é sobretudo através da leitura dos seus escritos que os jovens podem hoje absorver a minúcia do personagem.

Cabral não era só poeta, era sonhador. Não era só chefe guerrilheiro, era articulador. Não era só diplomata, era mobilizador. Não era só líder, era pensador. Não era só professor, era zelador. Parecem muitas qualidades para uma só pessoa?… mas assim são
os seres especiais. Têm defeitos também, são humanos, mas deixam uma marca indelével por serem únicos. E, por nos trazerem esperança.

Em tempos difíceis olhamos para o retrovisor, reacção natural de quem prescruta o futuro sem balizas claras e velocidade controlada. O passado parece-nos mais fácil de interpretar, diferente de ter sido mais fácil de viver ou enfrentar.

Afinal de contas o que pode ser mais difícil de mudar hoje do que o que Cabral viveu na sua juventude?

Organizar do nada um povo colonizado, num território marginal, contra um exército que chegou a ter mais de 20.000 efetivos na frente de guerra, equipado com meios aéreos assinaláveis, logísitica da NATO e apoio diplomático de países poderosos. Conseguir ser vitorioso de forma transcendental: estruturando o caminho para a libertação da Guiné e Cabo Verde, provocando a unificação do movimento de libertação em Angola, despoletando uma revolta que acabou eliminando o fascismo em Portugal, e inspirando uma nova vaga de pensamento panafricanista e revolucionário.

Às facetas de organizador exímio falta acrescentar a contribuição teórica. Com exemplos como a cenceptualização do papel da cultura na libertação, que depois seria ampliada na pedagogia do oprimido de Paulo Freire; a transformação da leitura marxista da luta de classes para a configuração de como um povo subjugado incarna uma classe nacional na sua luta contra o colonialismo, tese mais sofisticada do que a versão simplista de um Kwame Nkrumah; a interpretação metafórica do papel ambíguo da pequena burguesia, hoje diríamos das elites, no período pós-colonial, sujeito de perpetuação de práticas alienadas, que Frantz Fanon desenvolveu em termos psicológicos; ou a elaboração de um novo conceito de unidade, só atingível com a sublimação do que chamou de prática revolucionária, ou seja uma postura para os movimentos do seu tempo, distinta dos populismos baratos em que se baseiam muitos dos contestatários do presente.

Tudo isto falando para camponeses com o mesmo à vontade que falava nas tribunas globais. Para uns usando os exemplos do que viviam no seu quotidiano simples – panela, terra, morança ou floresta – e para outros oferecendo a sabedoria popular dos ditados e das adivinhas africanas, como ponto de conexão com essa mesma realidade.

Cabral detinha uma magia nas palavras, usava comparações, metáforas e sobretudo demonstrava através delas o respeito pelo outrém; não distinguindo em grau, género ou raça, como agora nos habituamos a dizer.

Que o seu exemplo de vida e o seu legado nos ajudem a manter a esperança.

Citação:

ACEP & CEsA (2022). “A cultura no sonho de justiça e de liberdade”. ISEG/CEsA – Centro de Estudos sobre África e Desenvolvimento. Revista Mundo Crítico nº 8 (Dez 2022). ISSN 2184-1926.

Mundo Crítico n.º 7: Ambiente e desenvolvimento: entre a utopia e a urgência


Resumo:

A sobreexploração de recursos do planeta e hábitos de consumo insustentáveis vêm produzindo impactos no ambiente, que configuram já uma verdadeira emergência ambiental. Uma das suas traduções mais visíveis é o aumento sem precedentes da temperatura do planeta, com danos irreversíveis. Em 2021, a comunidade internacional reuniu-se em Glasgow, na COP26, onde se reconheceu a emergência climática e a urgência de abandonar a exploração de recursos fósseis. Mas acordo final ficou aquém da ambição necessária.

Segundo contas feitas por organizações da sociedade civil, as medidas acordadas vão permitir que o aquecimento se mantenha nos 2 graus até ao final do século, ultrapassando as “linhas vermelhas” de segurança. Entre os mais afectados estão os pequenos Estados insulares e muitos países em desenvolvimento, que menos contribuíram para a situação. A realização da próxima COP27 em território africano, no Egipto, é para muitos africanos uma oportunidade a não desperdiçar.

Nesta edição debatemos os desafios e as emergências relacionadas com o desenvolvimento, o ambiente e o clima, e começamos esse debate com a “conversa imperfeita” entre dois especialistas com larga experiência em África e na América Latina.

Já a editoria “saber e circunstâncias” integra uma reflexão de Luís Fazendeiro sobre as desigualdades “Norte”/“Sul global”, a análise de Romy Chevallier e Alex Benkenstein sobre a Cimeira UE-UA e a (in)justiça climática e Patrícia Magalhães Ferreira apresenta a incoerência das políticas nestes domínios. Seguem-se experiências em S. Tomé e Príncipe (Jorge Carvalho), em Moçambique (Mariam Abbas e Natacha Bruna) e na Guiné-Bissau (Aissa Regalla de Barros). A editoria encerra com uma reflexão sobre a natureza e o clima (Flora Pereira da Silva).

No “modos de ver”, o fotógrafo português Mário Cruz revisita o rio Pasig, no coração de Manila, “exemplo do caminho perigoso que a humanidade percorre”, afirma o autor. Uma das fotos é a capa desta edição, bem como o encarte.

As “narrativas” são da jornalista portuguesa Vanessa Rodrigues, sobre a mobilização das mulheres rurais na Guiné-Bissau, do jornalista moçambicano Armando Nhantumbo que conta como os mega-projectos “empurram” a população para a miséria e a ambientalista Sofia Guedes Vaz, numa aventura de bicicleta até à COP26. E nas “inovações”, a Ana Filipa Oliveira traz-nos a Fakebook-ECO, uma iniciativa contra a desinformação ambiental.

A ilustradora ucraniana Viktoriya Kurmayeva desenha um relato da “mãe natureza” e no “escaparate”, sugerimos dois relatórios, sobre o financiamento (apresentado pela Rita Cavaco) e clima (e este pelo Tomás Nogueira). Boas leituras!

Citação:

ACEP & CEsA (2022). “Ambiente e desenvolvimento: entre a utopia e a urgência”. ISEG/CEsA – Centro de Estudos sobre África e Desenvolvimento. Revista Mundo Crítico nº 7 (Jul 2022). ISSN 2184-1926.


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