Revista CEsA nº1 | Investigação: Após uma pausa devido à pandemia, o seminário internacional In Progress regressa ao CEsA com apresentações e discussões sobre pesquisas em curso sobre África
O Seminário Internacional sobre Ciências Sociais e Desenvolvimento em África (In Progress) consagrou a sua 4ª edição nos dias 28 e 29 de novembro de 2022, no ISEG
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Foram dois dias cheios, com 15 apresentações de pesquisas em curso distribuídas em cinco painéis, e uma conferência especial sobre a génese colonial do desenvolvimento, proferida pela investigadora Cláudia Castelo (ICS/ULisboa). Foi, pois, também muito animado o clima do último Seminário Internacional sobre Ciências Sociais e Desenvolvimento em África (In Progress 4), que regressou ao Centro de Estudos sobre África e Desenvolvimento (CEsA) com a quarta edição nos dias 28 e 29 de novembro de 2022 após uma pausa devido às restrições impostas pela COVID-19.
O evento, que decorre a cada dois anos, teve organização das investigadoras do CEsA Iolanda Évora, Sónia Frias e Sílvia Amaral, sendo a sua comissão científica formada pelos investigadores do CEsA Iolanda Évora, Sónia Frias, João Estêvão e Alexandre Abreu.
Estes seminários são dirigidos a estudantes de mestrado e doutoramento e propõem-se ser um espaço de reflexão sobre os estudos sociais sobre a África contemporânea e o seu desenvolvimento. O foco assenta na apresentação entre pares de trabalhos de investigação em progresso, com o objetivo de se criar um espaço de partilha e de troca de ideias. As sessões têm a moderação de professores e investigadores sénior que conduzem os debates e, desse modo, também tomam contato com as experiências e pesquisas dos estudantes.
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Encontro presencial
Pela primeira vez, a quarta edição do evento foi em formato híbrido, com três apresentações remotas e 12 presenciais. A organizadora Sónia Frias reforça que, apesar da adaptação ao ambiente online, a tónica do In Progress continua a ser o encontro presencial entre os investigadores. “O trabalho de pesquisa é muitas vezes solitário e reconheço que os estudantes precisam do encontro físico para se conhecerem, conversarem e trocarem ideias. O ‘Zoom’ é ótimo para imensas coisas, mas não para combater a solidão que os trabalhos académicos acabam sempre por definir”, diz a investigadora.
Frias explica que o encontro presencial fomenta e fortalece alguns aspetos importantes para o convívio académico, como a solidariedade, o companheirismo e a partilha de ideias. “No evento presencial, para além das sessões de trabalho, encontramo-nos todos na pausa-café que é um momento informal, em regra muito produtivo, pois que aí se gera conversa, também sobre o trabalho, o ambiente torna-se mais familiar, o que permite a empatia, a partilha de experiências, mas também de e-mails, telefones… Vamos facilitar a apresentação a distância para quem não tenha nenhuma possibilidade de vir a Lisboa, mas será uma modalidade excecional”, comenta.
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Áreas temáticas
Um dos objetivos do In Progress é o de identificar as áreas temáticas que, na atualidade, suscitam mais interesse nos investigadores. A organizadora e professora do ISEG, Iolanda Évora, avalia o dinamismo temático ao longo das edições: “Alguns temas permanecem, por exemplo, as estratégias de cooperação de desenvolvimento, enquanto outros que eram presentes nas edições anteriores não apareceram nesta quarta edição, a exemplo do tema das populações e do bem-estar e da mudança social”.
Ferramenta metodológica
A quinta edição do evento, prevista para 2024, coincidirá com as comemorações dos 50 anos das independências das ex-colónias portuguesas e também com os 40 anos de fundação do CEsA, o que Évora considera um cenário propício para um momento de avaliação do próprio seminário In Progress. “Queremos refletir criticamente sobre o percurso e o desenvolvimento dos temas e das abordagens ligados a África. O In Progress é uma ferramenta metodológica. Nesse sentido, temos de fazer uma análise que leve em conta esse debate crítico”, explica.
Sónia Frias acrescenta que o evento é também um caminho para os estudantes começarem a discutir possibilidades metodológicas para além das tradicionais. “Isso aprende-se nos trabalhos de campo e quem tem essa experiência tem também a obrigação de chamar atenção para como essa diferença deve ser considerada nos nossos trabalhos. E o In Progress aparece a meio desse caminho, para estimular os estudantes a pensar sobre novas e diferentes possibilidades.”
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Pertinência para África
As próximas edições do In Progress procurarão, portanto, evoluir os debates na direção de incentivar discussões tanto sobre os aspetos metodológicos da pesquisa sobre África, quanto sobre a pertinência da investigação desenvolvida em ciências sociais sobre África — uma vez que tanto os trabalhos apresentados, quanto o próprio evento, estão situados no âmbito das ciências sociais produzidas na Europa.
“É um olhar daqui para lá e, portanto, temos de estar cientes quanto à pertinência dos nossos estudos em relação ao que está sendo discutido em África sobre as sociedades africanas”, diz Évora. “É precisamente nessa reflexão que temos a oportunidade de discutir sobre a nossa pesquisa individualmente e de perceber que ela está enquadrada num campo maior do desenvolvimento e da cooperação e, maior ainda, no campo das ciências sociais e mesmo das ciências humanas”, reflete a investigadora.
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Texto publicado na edição nº 1 da Revista CEsA. Autoria: Marianna Rios/Comunicação CEsA. Edição: Sónia Frias/Direção do CEsA e Filipe Batista/CEsA Comunicação. Tradução: Inês Hugon. Design: Felipe Vaz.