Cooperação

Município de Lagos e Centro de Estudos sobre África e Desenvolvimento afinam estratégia para a criação do Museu da Escravatura de Lagos

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A cerimónia de assinatura do Protocolo de Colaboração entre o Município de Lagos e o Centro de Estudos sobre África e Desenvolvimento (CEsA) decorreu esta semana nos Paços do Concelho Séc. XI, em Lagos. Esta iniciativa, destinada ao desenvolvimento do projeto de criação do Museu da Escravatura de Lagos, contará com a criação de núcleos expositivos, que serão concebidos pela autarquia e pelo Comité Português do Projeto UNESCO “A Rota do Escravo”.

Este protocolo de cooperação entre estas entidades, cujo texto foi aprovado na Reunião de Câmara, estabelece as formas de utilização dos edifícios e equipamentos geridos pelo Município, designadamente, o prédio designado por “Mercado de Escravos” (núcleo 1), bem como o piso 0 do parque de estacionamento do Anel Verde e zona ajardinada adjacente (núcleo 2).

Para além do executivo municipal, a cerimónia contou com as presenças da Diretora Regional de Cultura, Dália Paulo, do Vice-Presidente da Direção do Instituto Superior de Economia e Gestão do Centro de Estudos sobre África e Desenvolvimento, Professor Doutor Carlos Eduardo Machado Sangreman Proença, da Presidente do Comité Português do projeto “A Rota do Escravo” da UNESCO, Professora Doutora Isabel Castro Henriques e do Presidente da Assembleia Municipal de Lagos, Paulo Morgado. Além de outros convidados, marcaram igualmente presença o Arqt.º Pedro Ravara, responsável pela apresentação da primeira proposta de intervenção arquitetónica, e um dos artistas convidados que integrará este projeto, Lívio de Morais, assim como vários elementos que integram o grupo de ligação técnica do Comité Português para o projeto “A Rota do Escravo”.

Recorde-se que o projeto Museu da Escravatura de Lagos visa atingir dez objetivos (expressos na declaração do Município de Lagos de 16 de dezembro de 2011) dos quais se destacam alguns, designadamente: 1) a requalificação arquitetónica do paradigmático edifício do Mercado de Escravos; 2) a organização do espaço museológico – núcleo do Mercado de Escravos (exposições dos achados arqueológicos e outros associados) e um segundo núcleo no Parque de Estacionamento do Anel Verde (onde funcionará um Centro de Informação e Interpretação Histórica e Arqueológica do local – Memorial da Escravatura) onde os trabalhos arqueológicos levados a cabo em 2009 revelaram a existência de 155 esqueletos humanos de antigos escravos. Também está prevista a publicação de diversos estudos, quer no que diz respeito ao “cemitério de escravos”, quer sobre a Escravatura no Sul de Portugal, um Roteiro da Rota do Escravo ou ainda a publicação de brochuras turístico-culturais sobre os Lugares de Memória da Escravatura e do Comércio de Escravos em Lagos.

De acordo com o documento, agora assinado, e para o desenvolvimento do Museu, caberá ao Município o desenvolvimento das obras de adaptação e arranjos, bem como as ações de museologia e de museografia adequadas, em colaboração com o Comité Português do Projeto UNESCO “A Rota do Escravo”, ações a implementar no Mercado de Escravos e no Parque de Estacionamento Anel Verde.

Depois de lido e assinado o referido Protocolo, o Arquiteto Pedro Ravara apresentou uma proposta para um possível projeto arquitetónico a desenvolver em Lagos tendo em vista a materialização do Museu da Escravatura.

Recorde-se que os contactos para a criação do Museu da Escravatura em Lagos remontam a 2010, data da assinatura do Protocolo de Colaboração entre o Município e a Comissão Nacional da UNESCO visando a criação de um Centro UNESCO em Lagos, dedicado à abordagem histórica e cultural das relações estabelecidas entre Portugal e o Mundo, no passado, e suas representações nos tempos de hoje. Este projeto tem, no entanto, raízes ainda mais longínquas que importa recordar: em 1994 a UNESCO lançou um projeto mundial intitulado “A Rota do Escravo”, o qual viria a dar origem à criação de comités nacionais destinados a desenvolver os programas de ação definidos na sede, em Paris. Em 1997 era criado o Comité Português do Projeto UNESCO “A Rota do Escravo”, sob proposta da Professora Doutora Isabel Castro Henriques, ao qual se associou, em 2011 o Centro de Estudos sobre África e do Desenvolvimento (CESA). Ainda em 2011, o Município declarou o interesse público e municipal na realização do projeto de implementação do Museu da Escravatura na cidade histórica e turística de Lagos segundo o programa apresentado pelo Comité Português do projeto UNESCO “A Rota do Escravo”, autorizando a sua Presidente a contactar potenciais parceiros e mecenas com interesse no desenvolvimento deste projeto.

Para o Presidente da Câmara Municipal de Lagos, Júlio Barroso, “é importante reforçar a importância deste projeto, tanto mais que se integra no lema ena estratégia de uma marca que há alguns anos Lagos defende – o de «Lagos dos Descobrimentos»”.

O projeto do Museu da Escravatura é o “culminar de anos de trabalho no terreno e investigação que acabaram por trazer ao nosso conhecimento informações fundamentais para que conheçamos ainda melhor a história de Lagos. Informações estas que são importantes a vários níveis, nomeadamente o turístico”, lembrando a propósito que o edifício do Mercado de Escravos é um dos equipamentos culturais mais visitados do município. Sempre defendendo que “Lagos pretende fazer jus à sua marca e afirmar-se como um destino não só turístico, mas turístico-cultural”, o autarca não mostrou quaisquer dúvidas em afirmar que “este projeto trará notoriedade e mais atratividade ao destino Lagos dos Descobrimentos”, ainda que tenha deixado claro o facto de que, “infelizmente, a Câmara Municipal não está em condições para lançar ou liderar este projeto, dada a atual conjuntura e a necessidade de contenção de despesas estando por essa razão a contar com as parcerias que a UNESCO consiga alcançar”.

Por sua vez, a Diretora Regional da Cultura, Dália Paulo, começou por felicitar todos os envolvidos no projeto, enfatizando o facto deste ser “um exemplo de excelência no Algarve e no país”. Em primeiro lugar “porque será desenvolvido numa base de multidisciplinaridade (com um grupo de trabalho formado por vários técnicos de diversas áreas)” e por outro lado “porque nasce de uma base sólida e já com conteúdos resultantes de uma longa investigação que nos permite ter a certeza que um projeto deste tipo só faria mesmo sentido em Lagos e não noutro local qualquer”, defendeu.

Deixando a certeza de que a Direção Regional de Cultural irá colaborar no que for necessário, Dália Paulo terminou a sua intervenção lembrando Sophia de Mello Breyner Andresen com o texto “Navegações, Descobrimento-Encobrimento”.

 

Por último fez-se ouvir a Presidente do Comité Português do Projeto “A Rota do Escravo”, Professora Doutora Isabel Castro Henriques, começando por afirmar que o projeto do museu é um desafio no qual está “totalmente envolvida”, tendo sido a própria, em conjunto com o historiador e investigador Professor Doutor Rui Loureiro, a deixarem o repto à Câmara, há dois anos atrás, para que esta abraçasse este projeto. Isabel Henriques aproveitou a ocasião para recordar que, no que diz respeito aos achados arqueológicos aquando a construção do Parque do Anel Verde, em 2009, “estes se traduziram na descoberta do mais antigo «cemitério» de escravos do mundo e o único até agora descoberto na Europa”. Além disso, adiantou que este Museu será o 2º museu da Europa estritamente subordinado ao tema da escravatura (o 1º está localizado em Liverpool – Inglaterra).

Queremos mostrar ainda mais da história de Lagos, que é riquíssima. Queremos dar a conhecer uma série de vertentes e relações económicas, comerciais e mesmo humanas que existiam neste tempo em que Lagos, e concretamente, o edifício do Mercado de Escravos, estaria ligado ao tráfico negreiro”. Mostrando-se muito entusiasmada com o projeto, a presidente do Comité Português do Projeto “A Rota do Escravo” deixou a certeza que este é um projeto para avançar, tendo já o Comité Português desenvolvido, no decurso deste percurso, um conjunto de contactos e obtido manifestações de apoio e parceria, por parte de artistas plásticos, técnicos lusófonos e entidades diversas. “Já estamos à procura de parceiros, tanto nacionais como internacionais para que o Museu da Escravatura em Lagos seja uma realidade», afiançou.

O projeto continuará a ser estudado, tendo já sido constituído um grupo de ligação técnica, de acordo com o estipulado no Protocolo, que integra tanto individualidades ligadas ao Comité Português da UNESCO “Rota do Escravo”, bem como dirigentes e técnicos municipais.

A cerimónia terminou com uma visita aos locais dos futuros núcleos do Museu da Escravatura – Edifício do Mercado de Escravos, situado na Praça do Infante e Parque de Estacionamento do Anel Verde.

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