Descrição:

Terra Sonâmbula, o primeiro romance de Mia Couto, foi lançado em 1992, no ano da assinatura do Acordo Geral da Paz que deu fim à guerra entre a RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana) e o governo da FRELIMO (Frente para a Libertação de Moçambique) que durou dezasseis anos. Esta experiência trágica é o tema marcante da narrativa. Todavia, neste romance que cruza duas narrativas paralelas o autor convida o leitor a uma viagem tecida de sonhos, mitos e estórias que permitem ultrapassar a realidade cruel e violenta de bandos, tiros, campos de deslocados, fome e miséria. Para além disso, interessa-nos sublinhar o facto que no romance perpassa a visão do mar e, mais especificamente do Oceano Índico, como espaço ilimitado onde todas as comunidades poderiam conviver: “Eu e Surendra partilhávamos a mesma pátria: o Índico. Era como se naquele imenso mar sedesenrolassem os fios da história, novelos antigos onde nossos sangues se haviam misturado. Eis a razão por que demorávamos na adoração do mar: estavam ali nossos comuns antepassados, flutuando sem fronteiras. Essa era a raiz daquela paixão de me encaseirar no estabelecimento de Surendra Valá.
— Somos da igual raça, Kindzu: somos índicos!” (COUTO, 2008, p. 27). (Cf. Krakowska Rodrigues, Na Demanda da Ideia de Nação: As Viagens Pós-coloniais em Mário de Andrade e Mia Couto)

Referências (selecção) – em actualização

Fonseca, Maria Nazareth Soares e Cury, Maria Zilda Ferreira. Mia Couto : espaços ficcionais. [Belo Horizonte] : Autêntica, [2008].

Rios, Perón. A viagem infinita: estudos sobre Terra Sonâmbula, de Mia Couto. Recife: Ed. UFPE, 2007.

Rodrigues, Kamila Krakowska. Na Demanda da Ideia de Nação: As Viagens Pós-coloniais em Mário de Andrade e Mia Couto. Tese de Doutoramento orientada pela Prof. Doutora Maria Aparecida Ribeiro e Doutora Ana Mafalda Leite, Universidade de Coimbra, 2014. Prémio Fernão Mendes Pinto.