Videomakers africanos e afrodescendentes participam em formação intensiva em storytelling, narrativas e poder conduzida pelos realizadores nova-iorquinos Joe Brewster e Michèle Stephenson

O CEsA – Centro de Estudos sobre África e Desenvolvimento (ISEG Research/ISEG/Universidade de Lisboa) acolheu, entre os dias 16 e 19 de junho de 2025 — de 16 a 18 de junho no ISEG – Lisbon School of Economics and Management e no dia 19 de junho na Associação Passa Sabi — em Lisboa, uma formação intensiva em vídeo-documentário, dirigida a videomakers africanos e afrodescendentes.
Aoaní Salvaterra, David J. Amado, Elísio Bajone, Eugénio Silva (Mushu), Indira (Indi Mateta), Josiana Cardoso e Rogério Dias foram selecionados através de chamada pública para participar nesta iniciativa, conduzida pelos realizadores da RadaStudio New York, Michèle Stephenson e Joe Brewster, autores de documentários premiados como Going to Mars – The Nikki Giovanni Project (2023), Black Girls Play. The Story of Hand Games (2023) e Elena (2021).
Esta foi a primeira vez que os cineastas nova-iorquinos realizaram uma formação deste género em Lisboa, numa proposta que aliou excelência técnica e criatividade a um forte compromisso com o ativismo social.
“Este workshop serve para apoiar vozes, narrativas e o cinema negro. Muitos desses cineastas trouxeram ideias e projetos já iniciados. Nós estamos aqui para oferecer o apoio necessário para que eles possam reivindicar o seu poder e contar as suas histórias à sua própria maneira, numa sociedade onde, muitas vezes, não são plenamente bem-vindos”, explicou a realizadora de origem haitiana e panamenha Michèle Stephenson.
O cineasta afro-estadunidense Joe Brewster reforçou a importância de se conhecer as narrativas da comunidade negra e afrodescendente em Portugal.
“Os africanos e afrodescendentes estão aqui há centenas de anos, mas não são representados nas estátuas ou entre as figuras públicas que contribuíram para a sociedade portuguesa. Sem uma narrativa, não se pode realmente reivindicar agência dentro da sociedade civil e as próximas gerações ficam sem referências. Contar as nossas próprias histórias motiva outras pessoas e ajuda a sociedade dominante a reconhecer e aceitar a presença e o valor dessas contribuições.”

A iniciativa integrou o eixo temático “Raça, Etnicidade e Participação Cívica”, sob a coordenação das investigadoras do CEsA Iolanda Évora e Jessica Falconi, servindo como uma ferramenta metodológica para a abordagem da participação cívica e cidadania através da cultura — temas centrais no âmbito do projeto europeu #DemocracyInAction: Grassroots Culture, Arts and Cultural Spaces for Political Participation and Expression Online and Offline in a Resilient Europe.
O CEsA é o parceiro português e uma das nove entidades associadas ao consórcio europeu #DemocracyInAction, coordenado pela Universidade de Leiden e financiado pelo programa Horizon Europe (2025-2027).

Formação intensiva
O programa teve como principal objetivo promover a reflexão teórica e a prática criativa em storytelling, narrativas e poder, capacitando jovens criadores audiovisuais a explorar criticamente as formas de contar histórias, refletindo sobre as relações de poder que moldam as narrativas mediáticas, históricas e culturais.
Para o argumentista e realizador de cinema de origem jamaicana David J. Amado, estar entre colegas afrodescendentes foi inspirador e trouxe novas ideias.
“Normalmente, sou o único nesses espaços. Aqui, sinto-me mais seguro e acolhido. O conteúdo também fala da nossa comunidade, da empatia e da vulnerabilidade — não só das personagens, mas também do diretor. Estou muito grato por esta oportunidade.”

O curso incluiu 32 horas de aulas, integrando módulos de roteiro, técnicas de entrevista, edição e laboratório de cinema, onde os participantes foram desafiados a desenvolver os seus próprios projetos de curta-metragem, com orientação direta dos formadores.
A formanda são-tomense Aoaní Salvaterra partilhou o entusiasmo com a oportunidade de juntar o jornalismo à vontade de fazer documentários.
“O documentário está muito ligado ao jornalismo, ao contar histórias. Aqui, tudo fez sentido para mim — foi como juntar tudo o que tenho feito ao longo da vida. Acendeu a chama de novo”, comemora.

A formação incluiu também momentos de partilha de experiências e debate sobre representações visuais, identidade, justiça social e pertença – temas centrais na obra de Brewster e Stephenson.
A cabo-verdiana Josiana Cardoso, designer e diretora de fotografia de cinema, aproveitou a experiência para refletir sobre o seu papel social enquanto artista.
“Durante a formação, foi muito importante conhecer pessoas de outras nacionalidades africanas e perceber como outras pessoas pretas pensam as nossas vivências. Cada um luta com a arma que tem, e o pessoal das artes, sobretudo do audiovisual e do cinema, pode ajudar a construir histórias e a levá-las a outras pessoas, sensibilizando mais gente para essas causas.”







Exibição de filmes em Lisboa
A presença dos realizadores em Lisboa culminou com duas sessões públicas de exibição dos filmes Going to Mars: The Nikki Giovanni Project, que teve lugar no dia 20 de junho no Centro Cultural de Cabo Verde; e Black Girls Play – The Story of Hand Games e Elena, a 21 de junho no Espaço Mbongi (Praceta António Sérgio n.4 A, Queluz). Na sequência dos filmes, os realizadores conversaram com o público e convidados, com a moderação da jornalista Paula Cardoso, do Afrolink — parceiro deste projeto.







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#DemocracyInAction – Site do projeto
Autor: Comunicação CEsA (comunicacao@cesa.iseg.ulisboa.pt)
Fotografias: Marianna Rios/CEsA, Arquivo Pessoal e Passa Sabi/Reprodução